Barreiras nas cadeias de produção impactam ainda uma perda de 4% na
eficiência das frotas de caminhões e provocam custos de US$ 25 mil por
navio devido a atrasos de embarque. As conclusões fazem parte de um
relatório da Bain & Company e do Banco Mundial, apresentado durante o
Fórum Econômico Mundial.
São Paulo – Se todos os países reduzirem as barreiras da cadeia de
abastecimento à metade da melhor prática global, o PIB mundial pode
aumentar em 4,7% e o comércio internacional em 14,5%, superando em muito
os benefícios da eliminação de todas as tarifas de importação. Para
efeitos de comparação, a eliminação completa das tarifas poderia
aumentar o PIB global em 0,7% e o comércio mundial em 10,1%. Para se ter
uma ideia, no Brasil a burocracia alfandegária leva empresários a
gastar até 12 vezes mais tempo que europeus para exportar. As barreiras
nas cadeias de produção impactam ainda uma perda de 4% na eficiência das
frotas de caminhões e provocam custos de US$ 25 mil por navio devido a
atrasos de embarque. Os dados são do relatório “Possibilitando o
Comércio: Valorizando Oportunidades de Crescimento”, apresentado ontem
durante o Fórum Econômico Mundial, em colaboração com a Bain &
Company e o Banco Mundial,
Ganhos econômicos com a redução das barreiras também seriam mais
uniformemente distribuídos entre os países do que os ganhos associados à
eliminação de tarifas. As regiões que podem se beneficiar em
particular, em um cenário como esse, são África Subsaariana e Sudeste da
Ásia. Esses grandes aumentos no PIB estariam associados a efeitos
positivos sobre o desemprego, potencialmente adicionando milhões de
postos de trabalho à força de trabalho global.
Segundo o estudo, que analisou 18 estudos de caso abrangendo diversos
setores e regiões, a redução de barreiras da cadeia de abastecimento é
eficaz porque elimina o desperdício de recursos e diminui custos para as
empresas comerciais e, por extensão, reduz os preços para os
consumidores e empresas em geral. A existência dessas barreiras podem
resultar de procedimentos alfandegários e administrativos ineficientes,
regulamentações complexas e fragilidade nos serviços de infraestrutura,
entre muitos outros. A cadeia de fornecimento é a rede de atividades
envolvidas na produção e transporte de um produto para os consumidores, e
abrange todo o processo de fabricação, bem como serviços de transporte e
distribuição.
O relatório recomenda que os governos criem um ponto focal para
coordenar e supervisionar toda a regulamentação que impacta diretamente
as cadeias de suprimento; que parcerias público-privadas sejam
estabelecidas para realizar uma coleta regular de dados, e o
monitoramento e a análise de fatores que afetam o desempenho da cadeia; e
que os governos busquem uma abordagem mais holística, centrada na
cadeia de abastecimento para negociações internacionais, a fim de
garantir que os acordos comerciais tenham maior relevância e beneficiem
mais os consumidores e as famílias.
“O programa do fórum ‘Possibilitando o Comércio’ tem se esforçado
para destacar os atributos fundamentais que permitem a um país facilitar
o comércio”, destaca Borge Brende, diretor administrativo do Fórum
Econômico Mundial. “Por meio de vários estudos de caso, que fornecem uma
visão realista dos obstáculos diários que as empresas enfrentam ao
longo de rotas comerciais, este relatório mostra que a remoção de
barreiras nas cadeias de fornecimento pode melhorar a competitividade
econômica e gerar benefícios sociais significativos e empregos para
países “.
“Os estudos de caso mostram que os países podem perder sua vantagem
competitiva em termos de custos de fatores, se os custos associados com
as barreiras da cadeia de abastecimento forem altos”, esclarece Mark
Gottfredson, sócio da Bain & Company. “A lição para as empresas é a
importância de entender as barreiras da cadeia de fornecimento e como os
custos associados e atrasos podem corroer outras vantagens de
suprimentos. Por exemplo, um estudo de caso sobre a indústria de
vestuário ilustra como atrasos na fronteira, aplicação incoerente das
regras, e questões de infraestrutura neutralizam completamente vantagens
de custos trabalhistas significativas para muitos países”.
“As barreiras da cadeia de fornecimentos impedem significativamente
mais o comércio do que as tarifas de importação”, diz Bernard Hoekman,
diretor do Departamento de Comércio Internacional do Banco Mundial, que
também é o presidente do Conselho de Agenda Global do Fórum de Logística
e Cadeias de Fornecimento. “Reduzir essas barreiras irá reduzir os
custos para as empresas, e ajudará a gerar mais empregos e oportunidades
econômicas para as pessoas.”
Alguns dos 18 estudos de caso de país e setor inclusos no relatório: ·
No Brasil, lidar com a burocracia alfandegária para exportações de
commodities agrícolas pode levar 12 vezes mais tempo do que na União
Europeia (um dia inteiro contra algumas horas).
· Serviços de infraestrutura de má qualidade podem aumentar os custos
com insumos de bens de consumo em até 200% em alguns países africanos.
· Em Madagascar, as barreiras da cadeia de fornecimento podem ser
responsáveis por cerca de 4% do total das receitas de um produtor têxtil
(por meio de custos mais elevados de frete e estoques maiores),
corroendo os benefícios do acesso livre aos mercados de exportação.
· Obtenção de licenças e a falta de coordenação entre as agências
reguladoras nos EUA resultam em atrasos de até 30% dos embarques
químicos para uma empresa – cada embarque atrasado custa US$ 60 mil por
dia.
· Na Rússia, testes e licenciamento de produtos no setor de
informática podem resultar em altos custos administrativos e retardar o
tempo de colocação no mercado de 10 dias a 8 semanas.
· Exigências de conteúdo local, restrições de regras de origem e
furtos na fronteira podem aumentar os custos dos produtos de tecnologia
do Oriente Médio e Norte da África de 6% a 9%.
· A eliminação das barreiras da cadeia de fornecimento no mercado de
borracha do sudeste asiático poderia reduzir estoques em 90 dias, o que
representa uma redução de 10% no custo do produto.
· A regulamentação para acesso preferencial do mercado indiano, que
dá prioridade em compras governamentais aos produtos de alta tecnologia
produzidos localmente, pode aumentar os custos em10%, em comparação com o
custo das importações.
· Adoção de documentação eletrônica para o setor de carga aérea
poderia render US$ 12 bilhões em economias anuais e evitar de 70% a 80%
de atrasos relacionados à burocracia.
· Facilitar o processo regulatório que as pequenas e médias empresas
(PME) devem cumprir ao vender online pode aumentar as vendas entre
fronteiras de 60% a 80%.
Perfil-A Bain & Company, empresa líder global em consultoria de
negócios, orienta clientes em relação a estratégias, operações,
tecnologia, constituição de empresas, fusões e aquisições, desenvolvendo
práticas que assegurem aos clientes transparência nos processos de
mudança e tomada de decisões. A Consultoria trabalha em sinergia com os
clientes, vinculando seu fee aos resultados. O desempenho dos clientes
da Bain superou o mercado de ações em 4 para 1. Fundada em 1973, em
Boston, a Bain conta com 49 escritórios em 31 países e já trabalhou com
mais de 4.600 empresas entre multinacionais e companhias privadas e
públicas em todos os setores da economia. [
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